terça-feira, 3 de maio de 2011

Você está pronta para subir na Ponta ?!


 Um dos momentos mais especiais e de maior excitação na vida de uma aspirante a bailarina é calçar e dançar lindamente com sua primeira sapatilha de ponta. Porém, este momento mágico pode ser tornar uma grande frustração se não ocorrer no momento certo. Além disso, diversos fatores devem ser considerados. Há uma infinidade deles, mas citarei os mais importantes, os principais que devem servir como guia para pais, professores e para a pequena bailarina.



Idade

Qual é a idade correta para subir nas pontas?

Este simples pergunta é bastante traiçoeira para com os professores. Não há resposta simples, direta e adequada. Ortopedistas e mestres concordam que há uma combinação de variáveis que precisam ser analisadas antes de fazer um julgamento: idade, anatomia, desenvolvimento ósseo, força, intervalo dos treinos, peso corporal e perfil comportamental da iniciante.

Segundo o Dr. Justin Howse, ex-ortopedista do Royal Ballet School, em seu livro Dance Technique and Injury Prevention, afirma que, durante muitos anos, considerou-se a idade de 12 anos adequada ao início das pontas. Porém, ele próprio acredita que não há uma idade específica. “O único fator importante é o estágio de desenvolvimento da aluna e o dogma a respeito de sua idade não diz absolutamente nada sobre sua maturidade”.

Howse pontua inclusive que não há qualquer desvantagem em iniciar a técnica de pontas tardiamente, ao passo que sua antecipação pode ser potencialmente perigosa. Eu mesma adquiri uma tendinite crônica, que foi um dos fatores responsáveis para que eu parasse de dançar por mais de 10 anos, devido à antecipação da técnica (tinha apenas 9 anos quando comecei a usar as pontas).

A bailarina que aguarda o desenvolvimento de seu corpo e de suas habilidades corre menor risco de lesões, atinge a técnica correta com maior facilidade e apresenta progressos mais rapidamente. O doutor lembra ainda que a maioria das grandes bailarinas não possuíam pés fortes o suficiente para iniciar o trabalho de pontas antes mesmo da adolescência e isso em nada prejudicou suas brilhantes carreiras.



Custo

Assistir a filhinha dançando ballet aos 4 aninhos é o deleite de muitos pais. As apresentações de baby class são recheadas de fofura e espontaneidade. Mas e quando aquela atividade lúdica se torna uma paixão? Aqueles mesmos pais estão economicamente preparados para a formação da filha? A formação em ballet clássico é muito cara, especialmente devido ao custo das sapatilhas de ponta.

No Brasil, há poucos fabricantes (Só Dança Cecília Kerche, Balletto e Millenium são os mais conhecidos) e as sapatilhas importadas são extremamente caras e de aquisição complicada. Portanto, é comum que as bailarinas brasileiras sejam forçadas a utilizar sapatilhas inadequadas e prolongar seu tempo de uso, mesmo após considerá-las inadequadas. Isso aumenta vertiginosamente o risco de lesões.

A durabilidade de uma sapatilha de ponta varia bastante dentre marcas, modelos e suas características. Uma análise comparativa entre cinco marcas diferentes (Capezio, Gaynor Minden, Freed, Grishko e Leo’s) foi publicada pelo The American Journal of Sports and Medicine. De acordo com os resultados, nem sempre a sapatilha de maior durabilidade é aquela que confere o melhor conforto. E considerando que uma bailarina profissional utiliza até 65 pares de sapatilhas de ponta por mês, convém colocar no papel qual será o custo necessário para bancar a atividade.

Por isso, é importante notar que, se os pais não apresentam condições financeiras para proporcionar conforto e segurança na utilização das pontas, é melhor convencer a menina a permanecer na meia-ponta do que aumentar o risco de lesões definitivas.



Sapatilha rígida ou maleável?

Este é um tópico de bastante controvérsia. Há duas linhas a serem seguidas.

Alguns professores recomendam que as primeiras sapatilhas sejam bem rígidas; e gradualmente a iniciante passe a usar modelos mais maleáveis. Tais professores acreditam que a sapatilha rígida permite o fortalecimento dos pés à medida que a bailarina trabalha a técnica. Esta é uma opção muito bem vinda pelos pais, pois caixas de maior dureza também apresentam maior durabilidade.

Já outros professores sugerem que a primeira sapatilha seja mais maleável, pois a bailarina depende da força de seus pés e não da dureza da sapatilha. De acordo com eles, sapatilhas mais maleáveis forçam o pé a alcançar sua performance adequada, pois uma vez que a adaptação já foi feita com sapatilhas mais duras, é quase impossível uma bailarina utilizar modelos mais maleáveis, pois isto significa aprender uma nova técnica de dançar nas pontas.

Em geral, bailarinas profissionais utilizam sapatilhas de dureza superior. Mas após atingir o nível profissional, o que determina a dureza da sapatilha a ser utilizada é a natureza da coreografia.



Competência dos mestres e professores

O professor de ballet também é responsável pelo seu sucesso do treinamento nas pontas. Não basta que o professor seja pós-graduado em Dança ou Educação Física ou qualquer outra atividade relacionada à prática do ballet clássico. Antes de mais nada, o professor necessita interpretar todo o processo de desenvolvimento das pontas e saber comunicá-lo aos pais da aluna.

O conhecimento do professor a respeito da anatomia do pé da aluna, sua força e potencial para desenvolvimento possibilita a sugestão de uma marca específica, estilo e tamanho prováveis da sapatilha, servindo como a primeira base para a pesquisa da pequena bailarina. Quanto mais detalhes o professor souber, maior é a probabilidade da escolha correta.

Além da escolha correta da primeira sapatilha, um bom professor é capaz de identificar padrões que podem levar ao desenvolvimento de lesões. Seja por excesso de esforço de uma aluna muito dedicada, pela execução incorreta dos exercícios ou percepção de atitudes indesejadas (como a falta de aquecimento antes da aula). Um bom professor é aquele que possui conhecimento aliado à atenção e facilidade de comunicação.



Conhecimento

Assim como em qualquer profissão, conhecimento é a chave do sucesso. Um engenheiro não constrói pontes sem conhecer um paquímetro. E uma bailarina não encanta se não souber as características de sua sapatilha.

Na escola russa, os bailarinos são encorajados a conhecer o processo de fabricação das sapatilhas de ponta. As escolas americanas sempre recebem visitas de shoe fitters (profissionais que auxiliam na escolha da sapatilha) e representantes dos principais fabricantes do país. Algumas escolas ainda levam suas alunas para ver de perto o processo de fabricação. Isso possibilita um melhor entendimento a respeito da ferramenta, facilitando a comunicação e a antecipação dos problemas tão logo eles apareçam.

No Brasil, esta não é uma realidade. Não há profissionais capacitados, não há curiosidade por parte das alunas, alguns professores nem sequer têm formação necessária para fazer um bom julgamento. Por isso, gerar conhecimento sobre sapatilhas de pontas e criar um ambiente de discussões são as propostas do Ponta Perfeita. Acredito que estes são os primeiros passos para criarmos uma cultura saudável em torno do ballet clássico. Imaginem quantos talentos já não perdemos por falta de conhecimento?



Postura da bailarina

Mesmo após verificar que a pequena bailarina já está madura o suficiente para iniciar suas atividades na ponta, cabe somente a ela dizer se está pronta ou não. Aquela sensação de nunca estar preparada pode acontecer eventualmente. Neste momento, não é bom que pais ou professores a pressionem. Antes de mais nada, todos devem zelar pela segurança e pela saúde da pequena bailarina.

A postura da bailarina não consiste apenas em decidir ou não se está preparada para subir nas pontas. É necessário que ela ainda esteja apaixonadamente interessada no ballet clássico à idade de 13-14 anos. E além disso, esteja consciente de que o trabalho é árduo, exige dedicação, os resultados aparecem lentamente e que certamente haverá dor e desconforto.


                                                                                                 Beijos, Larissa .

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